
(inspirado no poema Os Três Mal-Amados, de João Cabral de Melo Neto)
O álcool em gel comeu minhas digitais
Meu sorriso, meu ir e vir
O álcool em gel comeu mais de 730 dias
E mais de 6 milhões de almas.
O álcool em gel comeu minhas vivências
Meu cotidiano fez-se solitário
O álcool em gel me fez de otário
Transformou em cárcere meu teletrabalho.
O álcool em gel comeu minha liberdade
Meu abraço, meu contato
O álcool em gel comeu meus amigos
Meus parentes, meus conhecidos.
O álcool em gel comeu minha sanidade
Minha saúde, minha religiosidade
O álcool em gel comeu minha esperança
Minhas roupas, minhas lembranças.
O álcool em gel aumentou minha dor
Minha ansiedade, meu pânico
O álcool em gel aumentou minha mágoa
Minha névoa, meu medo da morte.
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