Vota Queu Conto #3 – Resultado

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Demorou mas valeu a pena! 😀

Finalmente, depois de muitas semanas de atraso, vamos ao resultado da terceira votação, que resultou no início #4.

Fiquei realmente muito empolgado com o resultado. Espero que vocês apreciem:

 

CORDEL PRIMEIRO
Texto: André Lasak
Ilustrações: Tiburcio

INTRODUÇÃO
Esta é a história de Jabaculê, o cangaceiro cospe-fogo,
que assustou Lampião num ritual de mau agouro;
quem esta história lê, ou muda de cidade ou fica desnorteado,
porque fará mal pra você, quer tenha bondade ou seja malvado;
aguarde emoções e alegrias, sustos e fantasias,
mentiras e verdades, soluções e divanias;
porque esta é a história de Jabaculê, o cangaceiro arranca-corno,
que cobriu Maria Bonita e levou de Lampião o adorno.

I

No aniversário de meu padim Padi Ciço
Ano de nosso sinhô Jesus Cristim 1907
Nascia Januário Sebastião do Bom Viço
Um cabra macho que a dura vida promete

Perdeu a mãe na noite nascida
A dinda no inverno seguinte
O pai numa tocaia na lida
Avó de fome em conseguinte

O avô numa briga de bar
A outra avó de bexiga
O dindo em mais briga
O outro avô ao despertar

II

Criado foi no lombo do burro
De seu tio Jupirá Santinho
Um boiadeiro bom e miudinho
De fala mole e jeitão casmurro

Tomava leite de jumenta
Comia ovo de calango
Sede com água benta
Doença com pé de frango

Matava mutuca com peteleco
Aos dois e meio e pouco
Aos três já arrancava toco
Só com braço e perereco

III

Aos nove perdeu boiadeiro Santinho
Num buraco de cobra que se sentou
Corajoso que era nem mesmo chorou
Apenas enterrou seu tio Jú-paizinho

Agora era só o burro e Januário
Pelas bandas do seco Aricó
Andando magrinho de dar dó
E ostentando seu escapulário

De seca em seca o coitado persistia
Comendo o pão que o demo amassou
Depois que o burro por fim se esticou
Sozinho no mundo ele sobrevivia

IV

Agora que contava onze e meio
Roubava vendas e velhinhos
Moendas, ebós e doentinhos
Pra tentar comer de prato cheio

Aí que ele foi pego no susto
Por um jagunço irritadiço
De porte médio e robusto
Enquanto pegava chouriço

Apanhou até dizer chega
Foi aí que apanhou mais
Ao que gritou a galega:
– Dêxumininempáiz!

V

Galega nova, viçosa e bonita
Era a mais desejada do sertão
Então o jagunço largou o ladrão
Voltando ao trago em sua birita

– Minino, assim não se faz, não!
– Era só pedir pra Januária
– Que eu te dava o que era bão…
– Assim tu deixava de ser pária!

Como mãe Januária cuidou
Do pobre Januário magrinho
Tão bem que até de terninho
Na missa domingo ele usou

VI

Foram três anos bem felizes
Na vida de Januário Bom Viço
Mas a vida dura cobra as raízes
De quem deve seu compromisso

Foi que os cangaceiros chegaram
Pra acabar com a ingênua alegria:
Januária estuprada na catatonia
Foi assim. Sua cabeça cortaram.

O garoto pouparam pra contar o que vira
Antes, bateram tanto que até desmaiou
Ao acordar, nem mesmo acreditou
No que da vista a desgraceira lhe tira

VII

Januário gritou um ódio por demais avexado
Pelo que viu com seus pobres olhos doridos
– A vingança é o caminho de nós, oprimidos
– Pr’esses carniceiros, o mundo tá acabado!

– A partir de hoje sou Jabaculê
– O novo rei do cangaço
– E vou fazer com você
– O que jacaré faz com sanhaço!

A história não acaba por aqui, caro leitor;
aguarde uma breve temporada, que a outra parte contarei;
tem muito mais dor, eu direi, que nesta já desembrulhada;
agüente firme e sem ardor a vingança de Jabaculê,
e descubra o que o cospe-fogo pode fazer com você.

 

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